Objetivo da unidade
Ao final desta unidade, você deve conhecer a Estratégia Nacional para Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil – Proteja, compreendendo seu funcionamento e as formas de financiamento e monitoramento.
Introdução da unidade
Você inicia agora a primeira unidade, quando vai compreender melhor o cenário da obesidade infantil no Brasil, conhecendo os seus múltiplos determinantes e as estratégias de prevenção e atenção relacionadas ao tema. Nela também vai aprofundar o aprendizado sobre o que é o Proteja e o que cada letra da palavra significa – você perceberá que “Proteja” se trata, no caso, de um acrônimo, ou seja, uma palavra formada e baseada nas letras iniciais de uma série de palavras importantes relacionadas à atenção à obesidade infantil.
Nesta etapa, você também vai entender o funcionamento do Proteja, os recursos financeiros e seu acompanhamento, visto que serão abordados, inclusive, quesitos como o financiamento e o monitoramento. Para facilitar a compreensão do conteúdo abordado, iniciamos com a apresentação da narrativa sobre a experiência de abordagem da obesidade infantil, do município fictício de Florão. Acompanhe a seguir
enfrentamento da obesidade infantil no município de florão
Conheça a abordagem da obesidade infantil no município de Florão no podcast ou na forma de texto, disponíveis a seguir.
O município de Florão está localizado na região Nordeste do Brasil, com 21.550 habitantes, tendo como base da economia a agricultura familiar com produção de mandioca, algodão, banana, milho e feijão, bem como a indústria do calçado.
Conta com os serviços de Atenção Primária à Saúde ofertados em cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS). Cada equipe conta com médico, enfermeiro, odontólogo, técnico de enfermagem, técnico em saúde bucal e agentes comunitários de saúde. E uma equipe multiprofissional formada pelo nutricionista Bruno Costa, pela profissional de educação física Gabriela da Silva, e pela fisioterapeuta Marlene Santos, que apoiam as equipes de Saúde da Família do município.
Recentemente, a enfermeira Luana Bernardes, que atua na UBS Palmeira Rosa e Bruno, da equipe multiprofissional, realizaram especialização à distância sobre o sobre a atenção à saúde das pessoas com sobrepeso e obesidade, ofertada pelo Ministério da Saúde. A partir do conhecimento adquirido no curso, buscaram saber mais sobre o panorama do excesso de peso da população de Florão.
Inicialmente, Luana e Bruno consultaram os dados do Relatório Público do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), com registros das crianças acompanhadas na Atenção Primária à Saúde, em 2022, identificaram que: 15,8% das crianças menores de 5 anos e 33,9% das crianças de 5 a 9 anos estavam excesso de peso; e dessas, 7,6% e 17,8%, respectivamente, apresentavam obesidade segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) para idade. Observaram que 15,5% das crianças menores de 2 anos estavam com excesso e 5,4% apresentavam magreza ou magreza acentuada. Quanto aos adolescentes acompanhados na APS em 2020, 31,8% e 11,9% apresentavam excesso de peso e obesidade, respectivamente.
Os dados do SISVAN apontavam ainda, que as crianças indígenas, pardas e pretas da comunidade apresentavam as maiores prevalências de magreza ou magreza acentuada e muito baixa ou baixa estatura para idade, chamando a atenção para essas vulnerabilidades. Destaca-se que entre crianças pardas e pretas o excesso de peso também é prevalente, ou seja, todas as formas de nutrição acometem esses grupos.
Diante desse panorama, Luana e Bruno decidiram levar as informações para a reunião da equipe da UBS Palmeira Rosa. Ao discutirem os índices sobre avaliação antropométrica, concluíram que coexistiam problemas de excesso de peso, carências nutricionais (ferro e vitamina A) e desnutrição. Luana destacou que as transições nutricional e epidemiológica ocorrem simultaneamente, e isso colabora para o cenário de múltipla carga de má nutrição. No Brasil, observa-se u m cenário persistente de múltipla carga de malnutrição, no qual há a coexistência em uma mesma população de diferentes agravos nutricionais, como obesidade, desnutrição e carências nutricionais específicas, configurando-se em manifestações simultâneas de insegurança alimentar e nutricional. A múltipla carga de má nutrição é uma realidade nos países e atinge principalmente grupos em situação de vulnerabilidade, como famílias de baixa renda, mulheres, população negra e povos e comunidades tradicionais. Além disso, a má nutrição tem um denominador comum importante: o sistema alimentar, que deve superar os desafios existentes para prover a todas as pessoas uma alimentação segura, adequada e saudável, baseada em alimentos in natura e minimamente processados, produzidos de forma sustentável, com acesso facilitado por meio de políticas de produção, abastecimento e preço. A produção de alimentos ultraprocessados, com altos teores de gorduras saturadas, sódio, açúcar e carboidratos refinados e pobres em fibras e outros componentes naturais essenciais, favorecem o consumo alimentar inadequado, o ganho de peso, a deficiência de micronutrientes e a ocorrência da má nutrição, e precisa ser desestimulado, com fomento de alimentos mais saudáveis e menos processados.
Bruno destacou as prevalências de excesso de peso que vêm aumentando em crianças, sendo necessário observar a organização dos territórios, a disponibilidade de dispositivos para promoção da saúde, o acesso à alimentação adequada e saudável, a prática de atividade física e o consumo alimentar desse público. Dessa forma, apresentou para a equipe dados de consumo alimentar do SISVAN disponíveis nos relatórios referentes ao município: 44% das crianças entre 6 e 23 meses haviam consumido alimentos ultraprocessados no dia anterior à resposta do questionário, apenas 13% haviam consumido alimentos ricos em ferro, o que pode contribuir para maiores prevalências de excesso de peso e anemia. Mais da metade (53%) das crianças de 2 a 4 anos têm o hábito de realizar refeições assistindo televisão e consumiram, no dia anterior à entrevista, (63%) bebidas adoçadas e biscoitos recheados, (59%) doces ou guloseimas. Mais de metade (61%) das crianças de 5 a 9 anos tinham o hábito de realizar refeições assistindo à televisão, (67%) consumiram bebidas adoçadas e biscoitos recheados, (60%) doces ou guloseimas, o que pode contribuir para o aumento das prevalências de má nutrição.
O dentista Luís da Silva e a médica Karina Fernandes desconheciam o SISVAN, demonstraram-se surpresos com as informações apresentadas. Inclusive, Luís ressaltou as consequências do consumo excessivo de doces e guloseimas e de outros alimentos ultraprocessados para a saúde bucal da população. Luana e Bruno explicaram que o SISVAN permite o registro de dados antropométricos e de consumo alimentar, sendo estratificado por ciclo de vida. Ressaltaram que os registros antropométricos inseridos no sistema de gestão do programa de redistribuição de renda nacional são incorporados ao SISVAN, ao final de cada vigência.
Sempre que registrados dados de peso e altura nas fichas de atendimento individual, de atividade coletiva e visita domiciliar e territorial, bem como quando aplicadas as questões da Ficha de Marcadores do Consumo Alimentar do e-SUS, essas informações passam a compor os relatórios do SISVAN. A coordenadora da UBS, Jaqueline de Oliveira, ao ter conhecimento do acesso ao sistema de informação em saúde pelos profissionais, destacou que as informações são imprescindíveis para o reconhecimento da situação alimentar e nutricional da população, e subsidiar o planejamento de ações voltadas ao enfrentamento dos problemas de má nutrição, no nível assistencial e gestão municipal.
Jaqueline informou a equipe um novo programa para adesão do município, o qual se tratava justamente da Estratégia Nacional de Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil (Proteja), instituída pela Portaria GM/MS nº 1.862, de 10 de agosto de 2021. O secretário de saúde havia informado que essa é uma iniciativa brasileira, voltada para a prevenção e atenção à obesidade infantil e suas consequências, utilizando intervenções efetivas e de alto impacto, baseadas em evidências científicas. Ressaltou que um dos pressupostos do Proteja é a intersetorialidade das ações para prevenção e atenção à obesidade infantil. Devido a informação de Jaqueline, o encaminhamento foi verificar junto à Secretaria Municipal da Saúde mais informações sobre o Proteja e sua implementação local.